quinta-feira, 16 de abril de 2009

Artigo II

Artigo II - As práticas da verdadeira devoção à Santíssima Virgem

§ I. As práticas comuns

115. Há muitas práticas interiores da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. As principais são, abreviadamente, as seguintes:

1. Honrá-la, como digna Mãe de Deus, com o culto de hiperdulia, isto é, estimá-la e honrá-la sobre todos os outros santos, como a obra-prima da graça e a primeira depois de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
2. Meditar suas virtudes, seus privilégios e seus atos.
3. Contemplar suas grandezas.
4. Fazer-lhe atos de amor, de louvor e reconhecimento.
5. Invocá-la cordialmente.
6. Oferecer-se e unir-se a ela.
7. Em todas as ações ter a intenção de agradar-lhe.
8. Começar, continuar e acabar todas as ações por ela, nela, com ela e para ela, a fim de fazê-las por Jesus Cristo, em Jesus Cristo, com Jesus Cristo, e para Jesus Cristo, nosso último fim. Mais adiante explicaremos esta última prática. (Ver cap. VIII, art. II).

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116. A verdadeira devoção à Santíssima Virgem tem também muitas práticas exteriores, das quais as principais são:
1. Alistar-se em suas confrarias e ingressar em suas congregações;
2. ingressar numa das ordens instituídas em sua honra;
3. publicar seus louvores;
4. dar esmolas, jejuar e mortificar-se o espírito e o corpo em sua honra;
5. trazer consigo suas insígnias, como o santo rosário ou o terço, o escapulário ou a cadeiazinha;
6. recitar com devoção, atenção e modéstia ou o santo rosário, composto de quinze dezenas de Ave-Marias, em honra dos quinze mistérios principais de Jesus Cristo, ou o terço de cinco dezenas, contemplando os cinco mistérios gozosos: a anunciação, a visitação, a natividade de Jesus Cristo, a purificação e o encontro de Jesus no templo; os cinco mistérios dolorosos: a agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras, sua flagelação, a coroação de espinhos, Jesus levando a cruz, e a crucificação; os cinco mistérios gloriosos: a ressurreição de Jesus, sua ascenção, a descida do Espírito Santo, a assunção da Santíssima Virgem em corpo e alma ao céu, e sua coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade.
Pode-se recitar também uma coroa de seis ou sete dezenas em honra dos anos que se crê a Santíssima Virgem ter vivido na terra; ou a coroinha da Santíssima Virgem, composta de três Pai-nossos e doze Ave-Marias, em honra de sua coroa de doze estrelas ou privilégios; outrossim o ofício da Santíssima Virgem universalmente conhecido e recitado pela Igreja; o pequeno saltério da Santíssima Virgem que São Boaventura compôs em sua honra, tão terno e devoto que não se pode recitá-lo sem enternecimento; quatorze Pai-Nossos e Ave-Marias em honra de suas quatorze alegrias; quaisquer outras orações, enfim, hinos e cânticos da Igreja, como o "Salve Rainha", o "Alma", o "Ave Regina caelorum", ou o "Regina caeli", conforme os diferentes tempos; ou o "Ave Maris Stela", "O gloriosa Domina", etc, ou o "Magnificat", e outras orações e hinos de que andam cheios os devocionários;
7. cantar e fazer cantar em sua honra cânticos espirituais;
8. fazer-lhe um certo número de genuflexões ou reverências, dizendo-lhe, p. ex., todas as manhãs, sessenta ou cem vezes: "Ave Maria, Virgo fidelis", para, por intermédio dela, alcançar de Deus a fidelidade às graças durante o dia; e à noite: "Ave Maria, Mater misericordiae", para por intermédio dela, alcançar de Deus o perdão dos pecados cometidos durante o dia;
9. ter zelo por suas confrarias, ornar seus altares, coroar e enfeitar suas imagens;
10. carregar ou fazer que se conduza sua imagem nas procissões, e trazê-la consigo como uma arma eficaz contra o demônio;
11. mandar fazer imagens que a representem, ou seu nome, e colocá-los nas igrejas, nas casas, pórticos ou à entrada das cidades, igrejas e casas;
12. consagrar-se e ela de uma maneira especial e solene.

117. Há uma quantidade de outras práticas da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, que o Espírito Santo tem inspirado às almas de escol, e que são muito santificantes. Pode-se encontrá-las mais extensamente no livro "Paraíso aberto a Filágia" do Padre Paulo Berry, da Companhia de Jesus. Aí o autor coligiu grande número de devoções praticadas pelos santos em honra da Virgem Santíssima, devoções maravilhosamente úteis para santificar as almas, desde que sejam praticadas como devem, isto é:
1. Com reta e boa intenção de agradar só a Deus, de unir-se a Jesus Cristo como nosso fim último, e de edificar o próximo;
2. com atenção, sem distrações voluntárias;
3. com devoção, sem precipitação nem negligência;
4. com modéstia e compostura, em atitude respeitosa e edificante.

§ II - A prática perfeita

118. Depois de ler quase todos os livros que tratam da devoção à Santíssima Virgem e de conversar com as pessoas mais santas e instruídas destes últimos tempos, declaro firmemente que não encontrei nem aprendi outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que exija de uma boa alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor-próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo, e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santificante para a alma e útil ao próximo.

119. O essencial desta devoção consiste no interior que ela deve formar, e, por este motivo, não será compreendida igualmente por todo mundo. Alguns há de deter-se no que ela tem de exterior, e não passarão avante, e estes serão o maior número; outros, em número reduzido, entrarão em seu interior, mas subirão apenas um degrau. Quem alcançará o segundo? Quem se elevará até o terceiro? Quem, finalmente, se identificará nesta devoção? Aquele somente a quem o Espírito de Jesus Cristo revelar este segredo. Ele mesmo conduzirá a esse estado a alma fiel, fazendo-a progredir de virtude em virtude, de graça em graça e de luz em luz, para que ela chegue a transformar-se em Jesus Cristo, e atinja aplenitude de sua idade sobre a terra e de sua glória no céu.

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