quinta-feira, 16 de abril de 2009

CAPÍTULO VII - Efeitos maravilhosos...

CAPÍTULO VII - Efeitos maravilhosos que esta devoção produz numa alma que lhe é fiel.

213. Meu querido irmão, convencei-vos de que, se vos tornardes fiel às práticas interiores e exteriores desta devoção, que vos indico em seguida:


ARTIGO I - Conhecimento e desprezo de si mesmo.

Primeiro - Pela luz que o Espírito Santo vos dará por intermédio de Maria, sua querida esposa, conhecereis vosso fundo mau, vossa corrupção e vossa incapacidade para todo bem, e, em conseqüência deste conhecimento, vos desprezareis, e será com horror que pensareis em vós mesmo. Considerar-vos-eis como uma lesma aequerosa que tudo estraga com sua baba, como um sapo repugnante que tudo envenena com sua peçonha, ou como a serpente traiçoeira que só busca enganar. A humilde Maria vos dará, enfim, parte de sua profunda humildade, com que vos desprezareis a vós mesmo, sem desprezar pessoa alguma, e gostareis até de ser desprezado.

ARTIGO II - Participação da fé de Maria

214. Segundo - A Santíssima Virgem vos dará uma parte de sua fé, a maior que já houve na terra, maior que a de todos os patriarcas, profetas, apóstolos e todos os santos. Agora, reinando nos céus, ela já não tem esta fé, pois vê claramente todas as coisas em Deus, pela luz da Glória. Com assentimento do Altíssimo, ela, entretanto, não a erdeu ao entrar na glória; guardou-a para seus fiéis servos e servas na Igreja militante. Quanto mais, portanto, ganhardes a benevolência desta Princesa e Virgem fiel, tanto mais profunda fé tereis em toda a vossa conduta: uma fé pura, que vos levará à despreocupação por tudo que é sensível e extraordinário; uma fé viva e animada pela caridade que fará com que vossas ações sejam motivadas por puro amor; uma fé firme e inquebrantável como um rochedo, que vos manterá firme e constante no meio das tempestades e tormentas; uma fé ativa e penetrante que, semelhante a uma chave misteriosa, vos dará entrada em todos os mistérios de Jesus Cristo, nos novíssimos do homem e no coração do próprio Deus; fé corajosa que vos fará empreender sem hesitações, e realizar grandes coisas para Deus e a salvação das almas; fé, finalmente, que será vosso farol luminoso, vossa via divina, vosso tesouro escondido da divina Sabedoria, e vossa arma invencível, da qual vos servireis para aclarar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte, para abrasar os tíbios e os que necessitam do ouro candente da caridade, para dar vida aos que estão mortos pelo pecado, para tocar e comover, por vossas palavras doces e poderosas, os corações de mármore e derrubar os cedros do Líbano, e para, resistir ao demônio e a todos os inimigos da salvação.

ARTIGO III - Graça do puro amor.

215. Terceiro: Esta Mãe do amor formoso (Ecli 24, 24) aliviará vosso coração de todo escrúpulo e de todo temor servil ela o abrirá e alargará para correr pelo caminho dos mandamentos de seu Filho (cf. Sl 118, 32) com a santa liberdade dos filhos de Deus, e para nele introduzir o puro amor, de que ela possui o tesouro; de tal modo que não mais vos conduzireis, como o fizestes até aqui, pelo receio ao Deus de caridade, mas pelo amor, unicamente. Passareis a olhá-lo como vosso bondoso Pai, tratando de agradar-lhe incessantemente; com ele conversareis confidentemente, à semelhança de um filho com seu pai. Se, por acaso, o ofenderdes, humilhar-vos-eis em continente diante dele, pedir-lhe-eis perdão humildemente, lhe estendereis simplesmente a mão, e vos levantareis amorosamente, sem perturbação nem inquietação, e sem desfalecimentos continuareis a caminhar para ele.

ARTIGO IV - Grande confiança em Deus e em Maria

216. Quarto: A Santíssima Virgem vos encherá de grande confiança em Deus e nela:
1. porque não vos aproximareis mais de Jesus Cristo por vós mesmo, mas, sempre por intermédio desta bondosa Mãe;
2. porque, tendo lhe dado todos os vossos méritos, graças e satisfações, para que deles disponha à sua vontade, ela vos comunicará suas virtudes e vos revestirá de seus méritos, de sorte que podereis dizer confiantes a Deus: "Eis Maria, vossa serva: faça-se em mim conforme a vossa palavra" (Lc 1, 38);
3. porque, desde que vos destes a ela inteiramente, de corpo e alma, ela, que é liberal com os liberais, e mais liberal que os próprios liberais, dar-se-á a vós em troca, e ito de um modo maravilhoso, mas verdadeiro; assim podereis dizer-lhe ousadamente: "Eu vos pertenço, Santíssima Virgem, salvai-me!"; ou como já disse, com o discípulo amado "eu vos tomei, Mãe Santíssima, como todo o meu bem". Podereis ainda dizer com São Boaventura:
"Minha querida Senhora e Salvadora, agirei com confiança e não temerei porque sois minha força e meu louvor no Senhor... Sou todo vosso, e tudo que tenho vos pertence; ó gloriosa Virgem, bendita sobre todas as coisas criadas, que eu vos ponha como uma marca sobre meu coração, pois cossa dileção é forte como a morte!"
Podereis dizer a Deus com os sentimentos do profeta: "Senhor, nem meu coração nem meus olhos têm motivo para se elevar e ensoberbecer, nem de buscar coisas grandes e maravilhosas; e mesmo assim, ainda não sou humilde; mas elevei e encorajei minha alma pela confiança; sou como uma criança, afastada dos prazeres da terra e apoiada ao seio de minha mãe; e é neste seio que sou cumulado de bens".
4. O que aumenta ainda vossa confiança nele é que, tendo lhe dado em depósito tudo o que tendes de bom para dar ou guardar, confiareis menos em vós e muito mais nela, que é vosso tesouro. Oh! que confiança e consolação para uma alma poder chamar também seu o tesouro de Deus, onde Deus depositou o que tem de mais precioso. "Ela é - diz um santo - o tesouro do Senhor".

ARTIGO V - Comunicação da alma e do espírito de Maria

217. Quinto: A alma da Santíssima Virgem se comunicará a vós para glorificar o Senhor; seu espírito tomará o lugar do vosso para regozijar-se em Deus, contanto que pratiqueis fielmente esta devoção. "Que a alma de Maria esteja em cada um para aí glorificar o Senhor; que o espírito de Maria esteja em cada um para aí regizujar-se de Deus" (Santo Ambrósio). Ah! quando virá este tempo feliz - diz um santo de nossos dias, todo dado a Maria - quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? Quando chegará o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar? Então, coisas maravilhosas acontecerão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, a elas descerá abundantemente, enchendo-as de seus dons, particularmente do dom da sabedoria, a fim de operar maravilhas de graça. Meu caro irmão, quando chegará esse tempo feliz, esse século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas perdendo-se no abismo de seu interior se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo? Esse tempo só chegará quando se conhecer e praticar a devoção que ensino. "Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae".

CAPÍTULO VI - Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo

218. Sexto: Se Maria, que é a árvore da vida, flor bem cultivada em nossa alma pela fidelidade às práticas desta devoção, ela dará fruto em seu tempo; e seu fruto não é outro senão Jesus Cristo. Vejo tantos devotos e devotas que buscam Jesus Cristo, estes por uma via e uma prática, aqueles por outra; e muitas vezes depois de muito labutar durante a noite, podem dizer: "Trabalhando a noite inteira, nada apanhamos" (Lc 5, 5). E pode-se responder-lhes: "muito trabalhastes e pouco ganhastes". Jesus Cristo está ainda muito fraco em vós. Mas, pelo caminho imaculado de Maria e por esta prática divina que ensino, trabalha-se durante o dia, trabalha-se num lugar santo, trabalha-se pouco. Em Maria não há noite, pois ela jamais pecou, nem teve sequer a sambra dum pecado. Maria é um lugar santo, o Santo dos santos, em que se formam e modelam os santos.

219. Notai, se vos apraz, que eu digo que os santos são moldados em Maria. Há grande diferença entre executar uma figura em relevo, a martelo e cinzel, e executá-la por uma molde. Os escultores e estatuários têm de esforçar-se muito para fazer uma figura da primeira maneira, e gastam muito tempo; mas, da segunda maneira, trabalham pouco e terminam em pouco tempo.
Santo Agostinho chama a Santíssima Virgem "forma dei", o molde de Deus. "Si formam Dei te appellem, digna exsistis", o molde próprio para formar e moldar deuses. Aquele que é formado no molde divino fica em breve formado e moldado em Jesus Cristo, e Jesus Cristo nele: com pouca despesa e em pouco temo, ele se tornará deus, pois foi lançado no mesmo molde que formou um Deus.

220. Parece-me que posso muito bem comparar esses diretores e pessoas devotas que pretendem formar Jesus Cristo em si mesmos ou dos outros, por meio de práticas diferentes destas, a escultores que, depositando toda a confiança na própria perícia, conhecimento e arte, dão uma infinidade de marteladas e embotam o cinzel numa pedra dura, ou numa madeira áspera, para fazer a imagem de Jesus Cristo; e às vezes não conseguem dar expressão natural a Jesus Cristo, ou por falta de conhecimentos, ou devido a algum golpe desastrado que prejudica toda a obra. Aqueles, porém, que abraçam este segredo da graça que lhes apresento, eu os comparo a fundidores e moldadores que, tendo encontrado o belo molde de Maria, no qual Jesus Cristo foi natural e divinamente formado, sem se fiar na própria habilidade, mas unicamente na eficiência do molde, lançan-se e perdem-se em Maria para se tornarem o retrato natural de Jesus Cristo.

221. Bela e verdadeira comparação! Quem a compreenderá, porém? Desejo que sejais vós, querido irmão. Mas lembrai-vos que só se lança no molde o que está fundido e líquido, isto é, que é mister destruir e fundir em vós o velho Adão, para que venha a ser o novo em Maria.

CAPÍTULO VII - A maior glória de Jesus Cristo

222. Sétimo: Por esta prática, fielmente observada, dareis a Jesus Cristo mais glória em um mês, que por qualquer outra, embora mais difícil, em muitos anos. - Eis as razões do que afirmo:
1. Porque, fazendo vossas ações pela Santíssima Virgem, como esta prática ensina abandonais vossas próprias intenções e operações, ainda que boas e conhecidas, para vos perder, por assim dizer, nas da Santíssima Virgem, embora as desconheçais; e por aí entrais a participar da sublimidade de suas intenções, que foram tão puras, que ela deu mais glória a Deus, pela menor de suas ações, p. ex., fiando na roca, dando um ponto de agulha, do que um São Lourenço estendido na grelha, por seu cruel martírio, e mesmo que todos os santos por suas mais heróicas ações; pelo que, durante sua vida neste mundo, ela conquistou tal soma inefável de graças e méritos que se contariam antes as estrelas do firmamento, as gotas d'água do mar e os grãos de areia das praias; e ela deu mais glória a Deus que todos os anjos e santos reunidos e como eles jamais deram nem poderão dar. Ó prodígio de Maria! vós só podeis realizar prodígios de graça nas almas que querem de boa memte abismar-se em vós.

223.
2. Porque uma alma por esta prática, considerando nada tudo o que pensa ou faz por si mesma, e pondo todo o seu apoio e complacência nas disposições de Maria, para aproximar-se de Jesus Cristo e até para falar-lhe, pratica mais humildade que as almas que agem por si mesmas, que se apóiam e comprazem nas próprias disposições. Conseqüentemente, ela glorifica mais altamente a Deus, que só é glorificado, perfeitamente pelos humildes e pequenos de coração.

224.
3. Porque a Santíssima Virgem, querendo, por uma grande caridade, receber em suas mãos virginais o presente de nossas ações, dá-lhes uma beleza e brilho admiráveis; ela mesma as oferece a Jesus Cristo, e Nosso Senhor é assim mais glorificado que se nós lhas oferecêssemos por nossas mãos criminosas.

225.
4. Enfim, porque nunca pensais em Maria, sem que ela, em vosso lugar, pense em Deus. Nunca a louvais nem honrais, sem que ela convosco louve e honre a Deus, e com toda a propriedade eu a chamaria a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e chamou-a bem-aventurada, porque ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus entoou:

"Minha alma glorifica o Senhor" (Lc 1, 46)


O que fez nessa ocasião, Maria o faz todos os dias; quando a louvamos, amamos, honramos ou lhe damos algo, Deus é louvado, amado, honrado, e recebe por Maria e em Maria.

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